Há sete anos, o Brasil deu um passo histórico com a publicação da Lei Geral de Proteção de Dados (LGPD). Inspirada em modelos internacionais, como o GDPR europeu, a legislação inaugurou uma nova era na relação entre empresas, instituições públicas e cidadãos. Mais que uma norma jurídica, a LGPD se consolidou como um movimento contínuo e crescente, que vem se expandindo em “ondas”: primeiro, a urgência do cumprimento formal; depois, a adaptação cultural e tecnológica; e, agora, o amadurecimento das práticas de governança e segurança da informação.
Essas ondas refletem um processo natural e irreversível. A cada ano, novas regulamentações e normativas reforçam a pauta desde a Emenda Constitucional nº 115, que incluiu a proteção de dados como direito fundamental, até orientações da ANPD, resoluções setoriais como a Resolução 786 da Anvisa, e manuais técnicos de certificação em saúde (PALC, PADI e ONA), que incorporaram a conformidade à LGPD como requisito para a segurança do paciente. O resultado é claro: A privacidade se tornou um valor inegociável, transversal a diferentes setores da economia.
O avanço tecnológico é o combustível desse movimento. A aceleração da digitalização e, mais recentemente, a chegada da inteligência artificial expandiram a coleta, o uso e o compartilhamento de dados em escala inédita. Não se trata mais de um desafio restrito a bancos, hospitais ou grandes ecommerces, mas de uma realidade que atinge todas as organizações. A LGPD se impôs como ferramenta de equilíbrio, ao mesmo tempo em que garante segurança jurídica às empresas e autonomia aos cidadãos sobre seus dados.
Nesse cenário, não há mais espaço para inércia. Organizações que ainda não se adequaram enfrentam não apenas riscos de sanções administrativas, mas sobretudo repercussões financeiras e de mercado. A ausência de conformidade pode significar perda de contratos, dificuldade em licitações, impacto negativo em auditorias, além de reflexos diretos na reputação e na relação de confiança com clientes e parceiros. Cada incidente não tratado ou direito do titular negligenciado aumenta a exposição a demandas de reparação de danos.
O setor privado e o setor público já compreenderam a importância da pauta. Estados como Alagoas estruturaram comitês de proteção de dados e nomearam DPOs em seus órgãos; Conselhos profissionais, como o CRCMA, reforçaram a adequação como obrigação ética; E empresas de diferentes portes já desenvolveram programas internos de privacidade. Esse amadurecimento comprova que a LGPD não é uma moda ou obstáculo burocrático, mas uma condição estrutural para a sustentabilidade dos negócios no século XXI.
O momento exige dos empresários uma visão crítica e estratégica. Adiar a adequação significa ignorar um movimento global de transformação. É hora de encarar a LGPD como oportunidade de diferenciação competitiva e não como custo. Privacidade, segurança da informação e governança são hoje valores incorporados em certificações, em contratos internacionais e até em processos de acreditação hospitalar sendo, portanto, diferenciais de mercado que garantem longevidade e confiança às organizações.
Celebramos, assim, os sete anos da LGPD, sua pujança e seus resultados concretos. A lei consolidou direitos, estruturou processos, transformou culturas e elevou a maturidade digital do país. A HDPO se orgulha de ter acompanhado esse caminho, auxiliando mais de 100 empresas em sua jornada de adequação, fortalecendo negócios e promovendo ambientes mais seguros e responsáveis. O futuro aponta para a integração ainda mais intensa entre tecnologia e governança, e cabe às organizações assumirem seu papel nesse movimento irreversível, porque privacidade não é opção, é valor fundamental.

Autor: João Gonçalves Advogado em Direito Digital, e Gestor em Saúde com mais de 25 anos de experiência em saúde, compliance e proteção de dados. CEO da HDPO LGPD em Saúde e Diretor da PROTEGON, lidera projetos estratégicos de governança, segurança da informação e adequação à LGPD em hospitais, operadoras de planos de saúde e empresas de tecnologia. Com forte atuação na implementação de programas de privacidade, João também ministra treinamentos e palestras sobre cibersegurança, inteligência artificial e privacidade de dados, sendo referência na área.
